EMANUEL
>> terça-feira, 23 de agosto de 2011
Em minha solidão infantil, por trás das portas a ouvir que não pertencia aqueles que chamava de família, chorei muito
Perguntei tanto as razões? Como chamei por Ti,
Minha vida até aqui foi uma tentativa de Te encontrar
Quantas noites, deitado na cama, me derramando em lágrimas clamava por Tua presença
Dormia cansado a espera de um abraço, de uma palavra, de uma presença
Todos os meus conflitos Te foram apresentados
Apesar de nunca ter ouvido a Tua voz, jamais deixei de Te fazer ouvir a minha
Foi assim, acompanhado dessa Tua presença ausente que minha história foi construída
Chamando de Voz o que procedia do meu coração
Chamando de Paz o fim das energias que combatiam dentro de mim
Busquei sempre Tua orientação e jamais saberei quando me guiaste ou não
Por isso não consigo culpá-Lo pelos erros, mas não consigo Te eximir de ser fundamento de tudo
Em Teu silêncio foste a causa de todas as coisas que fiz e que não fiz
Caminhei tanto Contigo tendo o som das águas como Tua Voz que comecei a entender o Vento
E hoje já não busco mais ouvir a Tua Voz
As próprias palavras da minha oração foram desaparecendo
E hoje parece que falamos, depois de muito tempo, a mesma linguagem
Jamais deixei de crer em Ti
Jamais questionei Teu Amor
Jamais neguei Tua Graça
Nos momentos onde me perdi
Onde as lágrimas já haviam secado
Onde o fogo havia se extinguido
E me permiti experimentar o vazio
Misteriosamente Tua presença ausente estava lá
E eu sempre descansava nos braços invisíveis
Por isso na tribulação a angústia jamais dominou meu coração
Apesar da perplexidade jamais desanimei em continuar Te buscando
E em todas as perseguições jamais me senti desamparado
E quando minha alma foi abatida, não foi destruída
E posso dizer que até aqui, mesmo sem nunca ter visto Seu rosto, me ajudou o Senhor
Neste momento meu coração fala
E mais uma vez sou levado a pensar que Tu falas em mim e por mim, mas para mim
Dizendo que eu já Te vi, Te ouvi, Te senti, cuidei e fui cuidado por Ti
Estavas o tempo todo no lugar que decidiste habitar, na carne humana
Mesmo que também, no Vento, nas águas, e na maresia que forjou minha alma
Sem Te ver, Te vi sempre
Sem Te ouvir, Tua Voz ecoa dentro de mim
Sem Te sentir, sou tocado o tempo todo
E sem Te conhecer, misteriosamente sei em Quem tenho crido
Ivo Fernandes
22 de agosto de 2011