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Precisamos aprender a ser gente

>> quarta-feira, 17 de março de 2010

Escrevo para tentar de alguma forma achar ar para respirar, pois convivendo com campeões não consigo encontrar lugar para ser gente. Preciso de pessoas que como eu, erre, seja ridículo, as vezes grotesco, sem modos e sem respostas prontas para tudo.

Percebo que a humanidade se transformou numa fábrica de campeões, de gente ávida por sucesso, por aplausos, por se dar bem em tudo, e, isso não contribui para o bem da humanidade, ao contrário, cria super-heróis adoecidos e robotizados, sem senso crítico para ser gente, e se lambuzar na lama da vida. Eu quero me lambuzar na lama da vida, e ser gente, como Jesus.

Jesus, discretíssimo, jamais aceitou a lógica do triunfo. Ele exerceu o seu ministério nos confins da Galileia e não em Jerusalém; escolheu pescadores rudes como discípulos; priorizou alcançar marginalizados, pobres e esquecidos. Precisamos aprender a ser gente, porque Deus não premia sucesso, e sim integridade.

Precisamos, manos, de gente que valorize mais a discrição do que o aplauso, que valorize mais os relacionamentos com o próximo do que a superficialidade, que veja beleza na simplicidade ao invés de vê-la na sofisticação e que não fuja da sua fragilidade humana, porque somos pó.

Creio que esse é o chamado dos Caminhantes do Caminho: aprendermos a ser gente como Jesus foi.

Um abraço manos,


Wilkerson.


Em tempo, segue abaixo o poema de um gente: Fernando Pessoa.



Poema em linha reta

Fernando Pessoa



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!

Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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